NA CORDA BAMBA
Crise econômica nos EUA ameaça futuro das megaigrejas
Durante
mais de 15 anos, o senhor Smith foi diácono da megaigreja de 2.500
membros em Granny White Pike, Nashville. Multidões lotavam o templo,
atraídos pela música contemporânea e práticas pentecostais como falar em
línguas. Os sermões do pastor Billy Roy Moore fazia com que a Bíblia se
tornasse viva para os fiéis.
De
repente, tudo se desfez. Moore se afastou do ministério depois que seu
filho morreu em um acidente de carro. Ao invés de mudar para o novo
templo da nova igreja, com 15 mil metros quadrados, a maioria das
pessoas simplesmente desistiu. Quando a Lord´s Chapel finalmente fechou,
em 2003, restavam apenas 40 membros.
“Era
o poder de Deus que atraiu as pessoas para a igreja! Não sei como
chegamos nesse ponto. Eu já me fiz essa pergunta mais de mil vezes”,
lembra Smith, com tristeza na voz.
As
últimas três décadas foram tempos de bonança para as igrejas grandes
como essa. Na década de 1970, apenas uma dezena de igrejas eram “mega”,
nome dado às que tinham mais de 2.000 membros. Hoje, o número de
megaigrejas nos Estados Unidos está na casa dos milhares.
O
recente pedido de falência da Cristal Catedral, perto de Los Angeles,
que já foi um ícone da teologia da prosperidade, pregado pelo pastor
Robert Schuller, acendeu um sinal de alerta. Afundada em dívidas de mais
de US$ 40 milhões, o templo e o terreno serão vendidos para uma igreja
Católica.
A
maioria das megaigrejas, cujos pastores hoje estão na casa dos 50 anos,
parecem estar perdendo o fôlego. Alguns teólogos temem que esse grande
desgaste do antigo modelo de sucesso custe caro, pois já está claro que
elas não atraem as gerações mais jovens. Skye Jethani, editor-chefe da
revista Leadership, voltada para pastores, lembra que publicaram alguns
anos atrás um artigo comparando as megaigrejas com o mercado
imobiliário.
“Se
você perguntasse às pessoas em 2007 se o mercado imobiliário estava
indo bem, elas teriam dito que sim, ninguém imaginava o que aconteceria
no ano seguinte”, explica ele. As megaigrejas tornaram-se tão grande que
sua viabilidade econômica hoje é impossível. Muitas delas devem milhões
de dólares em hipotecas e precisam pagar o salário de centenas de
membros da equipe. Isso funciona bem quando uma igreja está crescendo.
Mas as igrejas geralmente encolhem quando há uma mudança de pastor ou
visão de ministério, afirma Jethani.
“Se
uma igreja tem 400 pessoas e você perde 200 membros, ainda pode
continuar. Porém, se a igreja tem 10.000 e reduz para uns 5.000, pode
não ser capaz de sobreviver.”
Alguns teólogos que estudam o fenômeno das megaigrejas divergem sobre como
será o futuro delas. Scott Thumma, que leciona sociologia da religião
no Hartford Seminary e já escreveu livros sobre o fenômeno, acredita que
todas as igrejas ficam vulneráveis quando trocam de pastores ou sofrem alguma mudança brusca. “As megaigrejas boas vão se adaptar, as ruins tendem
a fechar. As pessoas previram o fim delas há anos. Mas elas são como os
hipermercados. Não é algo que vai desaparecer do dia para a noite.
Megaigrejas são muitas vezes geridas por empresários que não estão
vinculados às formas tradicionais de se tocar uma igreja, isso lhes dá
uma vantagem sobre outras congregações.” acredita Thumma.
Rick
Warren, pastor da Igreja Saddleback, em Lake Forest, Califórnia, que
reúne cerca de 20 mil a cada domingo, disse duvidar do desaparecimento
das megaigrejas. ”A verdade é que a próxima geração de igrejas será
ainda maior do que as igrejas da minha geração”, disse ele. Novas
tecnologias, como videoconferência de alta qualidade, permitirá que
igrejas possam reunir pessoas em
muitos locais ao mesmo tempo. Assim, uma igreja poderá atrair dezenas
de milhares de pessoas sem a necessidade de construir um templo. Isso
significa que uma igreja não estará vinculada a um edifício enorme. A
geração seguinte nunca encheu os templos do passado”, disse Warren.
Warren
já nomeou líderes mais jovens para o ajudarem a conduzir a igreja. Mas
disse que as transições entre de um pastor mais velho para outro mais
novo pode ser determinante para o futuro de uma igreja. ”Um dos pontos
fortes de grandes igrejas é que os pastores ficam por um longo tempo”,
acredita ele.
Desde
2004 a Revista Outreach tem publicado anualmente uma lista das maiores
igrejas dos Estados Unidos. Apenas oito das 25 principais em 2004 ainda
estão no “top 25” este ano
Esse
tipo de planejamento antecipado pode ajudar as igrejas evitar uma crise
no futuro, disse Sheila Strobel Smith, pesquisador que estudou a
mudança pastoral em megaigrejas para sua tese de doutorado. Ela estudou
as 50 maiores igrejas protestantes dos Estados Unidos para sua
dissertação.
Apenas quatro ministros haviam mudado desde que atingiu o patamar de uma megaigreja, e um deles foi justamente a Catedral de Cristal. Quando
a igreja começou a encolher, em 2005, o pastor Robert Schuller não
estava disposto a mudar. Ele não soube preparar um sucessor e agora eles
realmente estão em apuros”, disse Smith. ”Os últimos seis anos têm sido
terríveis.” Smith disse que não há desculpa para uma igreja esperar até
que seja tarde demais para mudar ou se adaptar. ”Se tivermos pessoas
tementes a Deus nos bancos a cada domingo, não será uma crise econômica ou qualquer outra uma situação que os fará perder a fé”.
Data: 24/11/2011 08:30:00Fonte: Tennessean